Aluna suspensa no Rio de Janeiro por ter criado uma comunidade no Facebook para debater assuntos escolares e respostas dos deveres de casa que valiam ponto. Em Florianópolis, outra aluna criou uma página na mesma rede social para relatar casos e dificuldades da sua escola. Em Porto Alegre, uma escola apresentou um guia de posturas nas redes sociais à comunidade escolar. E você? Conhecia os casos? Parou para pensar em como as redes sociais virtuais estão presentes no cotidiano escolar?

Em uma pesquisa feita por Joicemegue Machado e Ana Vilma Tijiboy foi constatado que as novas tecnologias de informação e comunicação chegam às escolas, muitas vezes como uma imposição da modernidade, sem saber bem o seu lugar neste ambiente. Neste ritmo muitas instituições optam por não discutir e até mesmo bloquear o acesso a estes sites. Os argumentos são fortes e direcionam para segurança em relação a publicação de conteúdos inapropriados e até para a falta de formação de professores.

Mas se esquivando das redes sociais a escola não estaria deixando a discussão e a reflexão do cotidiano de fora? Para as pesquisadoras, lidar com essa circulação de saberes que transcendem os muros da escola é um dos grandes desafios da educação na era do conhecimento.

Em seu livro sobre a inteligência coletiva, Pierre Lévy afirma que “as redes sociais podem contribuir para a mobilização dos saberes, o reconhecimento das diferentes identidades e a articulação dos pensamentos que compõem a coletividade.” Por isso, através de intervenções intencionais é possível fazer uso dessas redes sociais como ferramentas pedagógicas para trabalhar qualquer conteúdo. As temáticas podem ser levantadas e discutidas pelos alunos e até mesmo por toda comunidade escolar, sendo orientadas pelos professores que auxiliarão no aprofundamento dos temas, na síntese de ideias e no levantamento de aspectos significativos para a aprendizagem e análise crítica dos dados.

Outras pesquisas recentes, realizadas nos EUA, concluíram que o aluno tem mais vontade de se comunicar com seus professores se já os conhecem em alguma rede social e ainda que as relações nestas redes geram canais mais abertos, proporcionando maior envolvimento dos alunos nas discussões e na exposição de dúvidas. E mesmo comparado a AVAs (Ambientes Virtuais de Aprendizagem) tradicionais as redes sociais virtuais, como o Facebook, são preferidas pelos alunos e mais efetivas e eficientes. Como exemplo, uma das pesquisas mostrou que em um fórum de discussão sobre a aula no Facebook o número de postagens foi quase 400% superior do que no AVA usado na escola. Já o Twitter, em 2012, apareceu pela 3 vez consecutiva como a melhor ferramenta para aprendizagem na votação realizada pelo Center for Learning & Performance Technologies. Desbancando ferramentas consideradas já “tradicionais” como Word, Power Point e Excel que ficaram em 19º, 8º e 81º lugares, respectivamente.

Em Belo Horizonte a coordenadora pedagógica Cléa Vieira, na educação há 5 anos, pretende usar o Facebook em um projeto de prevenção à dengue na sua escola. Segundo a pedagoga, “não podemos ignorar que as redes quando bem trabalhadas são ferramentas úteis em uma geração em que as novas tecnologias estão presentes desde o berçário”. Usuária do Facebook e Twitter, Cléa inclusive é “amiga virtual” e acompanha as publicações de alguns alunos nas redes mas admite que o trabalho ainda é um desafio “alguns (alunos) usam exageradamente e até para atingir outros. A maioria dos casos levados à coordenação pedagógica são de usos das redes para atingir, marcar brigas, discutir, roubar e fazer uso indevido das fotos, tudo pelo Facebook”.

O que é inegável é a necessidade imediata de discutir as redes sociais virtuais. Os professores precisam conhecer e explorar as possibilidades, características e recursos e, se for o caso, adequá-los à realidade de cada escola e às necessidades dos alunos. Afinal, tudo o que pode potencializar o aprendizado deve, no mínimo, ser discutido e pensado pelo professor.

 

Para continuar refletindo:

http://www.inf.ufes.br/~cvnascimento/artigos/a37_redessociaisvirtuais.pdf

http://www.cmsturgeon.com/itconf/facebook-report.pdf

http://www.gtaan.gatech.edu/meetings/handouts/MazerFacebook.pdf